Conto - Enfim, sim!



          Passou a sexta-feira e ela não veio. Estou preocupada. Ninguém da família ligou para dar uma satisfação.
         Nova semana se inicia. É terça-feira e vou aguardando uma ligação.
         Quarta e quinta-feira se passam e nada.No dia seguinte, a futura cunhada me liga perguntando se estava tudo certo
         __ Tudo certo sim, mas a noiva ainda vai querer os meus serviços?
         __ Sim. Ela está te esperando amanhã na casa da minha sogra. Você sabe chegar lá?
          __Então, eh... Mas ela não escolheu maquiagem nem o penteado! Mal conversamos e eu ainda não a conheço.
          __Bom, ela não contratou mais ninguém. É você mesma! E você não faz ideia do que aconteceu! Na sexta-feira passada ela desapareceu e só voltou na última terça, por isso que não fomos fazer a prova do cabelo.
          __Meu Deus! E agora, está tudo bem?
          __As coisas ainda estão meio confusas, mas parece que sim!
          __Ok! Levarei tudo então, me passa o endereço.

          Por volta das 13 h me preparei com toda a minha parafernália e coloquei tudo no carro.              Chegando à casa, onde estaria  a noiva, entrei e me apresentei. Logo de cara percebi que a pele da moça era difícil e ela não estava nem um pouco contente., parecia apreensiva. Distribuí meus pertences em cima de uma penteadeira, enquanto um CD tocava muito alto no outro ambiente. Por todo tempo que fiquei lá, a música contagiou o ambiente. Aliás, todos na casa eram bem animados e falavam muito alto também.
          Logo percebi que todas as madrinhas iriam trocar suas roupas por lá. Achei engraçada a correria.
          Ao iniciar meu trabalho, mostrei um catálogo de cores e outro de  penteados, mas a noiva me pediu apenas que o seu cabelo ficasse totalmente preso. Nada de partes caídas pelo rosto. E assim prossegui, e apesar da música alta, percebi certo rebuliço na cozinha, onde estavam sendo preparados o bolo e as carnes loucas.
         Era um entra e sai e as madrinhas, todas animadas, revezavam-se no banho e passavam de toalha pelo ambiente em que estávamos.
          A noiva continuava séria e as minhas coisas cada vez mais espalhadas pela penteadeira e então sobre uma cama. A hora do compromisso estava se aproximando. Não ouvi falar do noivo.  A pele melhorou. Mostrei o espelho. Estava bom.
          Se eu não gostasse da música ambiente, iria reclamar, pois estava muito alta, mas tornava a mudez da noiva algo menos desconcertante e depois a música fazia parte do contexto festivo. Senti-me bem, pois tinha certeza de que meus serviços não seriam reprovados.
          Ajudei a noiva a colocar o vestido. As madrinhas, apressadas, se olhavam no espelho evidenciando a autoconfiança que prevalece diante dele nos dias de festas.
          Notei que os pais estavam atrasados com suas vestimentas. Um corre-corre.
          Terminado meu trabalho, a noiva sai, em seguidas as madrinhas, todas felizes, comemorando aquele momento feliz.
          A música parou. Havia ruídos de despedias lá fora e as falas ficaram mais distantes. Comecei a recolher meus apetrechos. Havia calças jeans e sutiãs em cima da cama misturados aos meus produtos de maquiagem.  Estava engraçado e ri. Fui procurar por alguém na cozinha e fiquei estupefata ao ver o tanto de louça na pia e o bolo por terminar.
          Então me dei conta de que não havia mais ninguém na casa. Puro silêncio.  Caminhei pelos corredores e notei que realmente eu estava sozinha lá. Juntei as bolsas e saí com a certeza de que a casa ficaria aberta e uma incerteza do que acontecera em vista do sumiço da noiva às vésperas do seu casamento.
         __ Aceita?
         __ Aceito.
         __ Aceita?
         __ Aceito.



Fim.
  

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